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O trampismo ficou sem palco

por franciscofonseca, em 07.11.20

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Hoje venceu uma nova esperança. Espero que a vitória de Joe Biden contribua para um futuro diálogo, em torno das grandes questões que afetam a humanidade. As políticas que conduziram o mundo nos últimos 50 anos estão esgotadas. Transformaram as sociedades muito assimétricas, nomeadamente no que diz respeito ao bem-estar social. Hoje vivemos num mundo extremamente desigual, onde uma pequena percentagem vive na estratosfera e a esmagadora maioria vive em condições extremamente sofríveis. São necessárias novas abordagens, em múltiplos sentidos da vida em sociedade.

Chegou a altura da instituição de novas lideranças mundiais, no sentido da compreensão das desigualdades sociais, no mundo contemporâneo analisando algumas relações essenciais entre desigualdades nacionais, internacionais e globais.

Quando o descontentamento generalizado se apodera das sociedades, as pessoas tendem a refugir-se nos extremismos, pois as promessas são sempre muito aliciantes. O trampismo teve um grande impacto, mesmo sem ideologia, no ressurgimento de movimentos extremistas em várias partes do globo, nomeadamente, na Europa e a sua matriz veio para ficar. Nunca as desigualdades, na sociedade norte americana foram tão profundas, como são atualmente.

A necessidade de uma projeção política social global está longe de se encontrar concretizada na sua plenitude, em várias áreas, nem sequer iniciada. Em vários domínios existem múltiplas lacunas, nem sequer, um grau razoável de consensualização. Tenho esperança de que a vitória de Joe Biden seja o catalisador de uma nova abordagem, no debate no mundo contemporâneo, dirigidos à redução das desigualdades, à promoção da justiça social à escala global e na procura soluções para os grandes problemas que afetam o globo, em especial, as questões climáticas, os conflitos regionais, as emigrações descontroladas, os velhos paradigmas do crescimento económico e o estabelecimento de novos conceitos nas relações internacionais.

Certezas ninguém tem, mas posso dizer com alguma segurança, que já não sou quem era, nem voltarei a ser quem fui, mas serei sempre fiel aos princípios que me foram transmitidos e fundadores dos meus alicerces enquanto ser humano. A felicidade não se resume a ausência de problemas, mas sim a nossa capacidade em lidar com eles.

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publicado às 20:44

A crise da inteligência

por franciscofonseca, em 09.05.20

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No dia da europa decidi fazer esta reflexão. A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) arrasta o mundo para uma crise social e económica, provavelmente, sem precedentes depois da segunda guerra mundial, mas acima de tudo expõe uma gigantesca crise da inteligência nas lideranças mundiais. Seria de esperar que neste momento histórico, sobressaíssem lideranças inteligentes, capazes de definir um rumo, apontando caminhos globalmente seguros, capazes de tranquilizar as sociedades, relativamente a um futuro próximo.
Mas, o que vemos é exactamente o contrário. Os principais líderes mundiais, cada um por si, nos seus discursos apenas anunciam o despejo de milhares de milhões de euros ou dólares na economia, como se isso fosse resolver todos os problemas, da pós-pandemia. Como se isso não bastasse, assistimos a aplausos efusivos vindos de todos os quadrantes da geopolítica. A discussão está apenas no número dos milhões. Neste frenesim de anúncios, os abutres especuladores já preparam e afinam as suas garras, para arrecadarem as maiores fatias desses milhões. A factura será paga pelos do costume, ou seja, por aqueles que vivem do rendimento do seu trabalho e, que mais uma vez levarão com o jugo dos impostos em cima, para pagar os juros da dívida pública, que será contraída pelo Estado português.
Do outro lado do Atlântico, o titanic americano parece, a cada dia que passa, afundar-se irremediavelmente, juntamente com o seu timoneiro. Naturalmente, os seus vizinhos mais a sul vão por arrasto. Na Europa, a confusão é total, ninguém se entende, nem quanto a medidas de fundo, nem quanto aos paliativos. O projecto europeu está como nunca esteve, envolto em incertezas e em fragmentação profunda e acelerada. A Europa acaba de perder uma enorme oportunidade, de se afirmar definitivamente como uma verdadeira união, força e potência mundial. Do outro lado, a China afirma ter ambições de tomar a liderança mundial. Nesta conjuntura, muito especial, pode muito bem suceder.
Quando estudei políticas públicas na universidade, a corrente do Estado mínimo proferida por Adam Smith desde o século XVIII até ao início do século XIX e já no século XX teorizada por Robert Nozick, que se após um período keynesiano, que levou ao aumento do Estado em diversos países, o que fez aparecer algumas crises, o Estado mínimo voltou a ser discutido e foi assim que surgiu o neoliberalismo. Modelo ensinado como melhor solução, para todos os prolemas da nossa sociedade.
Os neoliberais defendem que o Estado deve ser reduzido ao máximo, devendo funcionar como regulador e para manter os bens públicos, que prestam auxílio ao funcionamento dos mercados. Os serviços prestados devem servir para a organização da ordem social, ou seja, educação, saúde e segurança. Mas até estes, a iniciativa privada tem absorvido para a sua esfera de acção, em partilha com o Estado.
O neoliberalismo é agora uma forma de fascismo porque a economia sujeitou os governos dos países democráticos, como de uma forma geral, o pensamento das sociedades. O Estado está agora ao serviço da economia e principalmente da finança, que o tratam como um subordinado, explorando-o até ao ponto de colocar em risco a preservação do bem comum. A austeridade tão desejada nos meios financeiros transformou-se num valor superior que substitui a política.
Chegados aqui, uma conclusão podemos tirar. Em épocas de alguma prosperidade económica o Estado deve ser quase inexistente, prestar alguns serviços e regular algumas actividades favorecendo o desenvolvimento económico, neoliberalismo puro. Em alturas de crise, como a crise financeira de 2008 e agora no decorrer da pandemia, o Estado deve suportar todos os custos e responsabilidades. Na crise de 2008 o Estado teve que injectar milhares de milhões de euros nos bancos, a bem da saúde do sistema financeiro, que ainda não tem um fim à vista. Quantos hospitais, escolas, estruturas sociais e de segurança poderiam ter sido construídos com esse dinheiro e agora sermos um país mais robusto e melhor preparado para lidar com este tipo de situações.
Na presente crise assistimos, nomeadamente, muitos defensores acérrimos do neoliberalismo a exigir do Estado compensações financeiras, devido a sua actividade se encontrar parada, ou porque tiveram um decréscimo acentuado nas suas receitas. Mais, hospitais privados a fechar, serviços de redes de distribuição de energia, água potável, comunicações com ameaças de colapsar. Empresas privadas de serviço de transporte público, concessionárias de redes rodoviárias, a exigirem do Estado compensações avultadas e, muitos mais exemplos existem. Sendo a economia privada que cria riqueza num país, como é possível num espaço de um mês essa riqueza esfumar-se.
Por tudo que foi dito, a maior crise que atravessemos é mesmo a crise da inteligência, pois não consigo vislumbrar em nenhuma liderança mundial, uma forma de fazer diferente, criando alternativas mais estruturantes, que nos preparem para novas pandemias, até possivelmente mais devastadoras que esta. As soluções que estão a ser avançadas, implementadas são velhas e só servem os mesmos interesses económicos das anteriores crises e os movimentos radicais extremistas, não servem os interesses da esmagadora maioria das pessoas, das comunidades e das sociedades em geral. Vamos seguramente assistir, no papel dos Estados, na organização das sociedades e na vivência das pessoas profundas transformações no futuro.
O foco terá de ser recentralizado nas pessoas, e terá de ser a determinação dos cidadãos profundamente ligados aos valores democráticos, recurso inestimável que, com todo o seu potencial de mobilização constituirá o poder para modificar o que é inelutável.

 

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publicado às 19:17

O poder sobe mesmo á cabeça!

por franciscofonseca, em 19.08.19

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Num estudo levado a cabo por uma equipa de investigadores sob a liderança de Sukhvinder Obhi, na McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada, concluiram que as posições de poder provocam danos cerebrais que se traduzem na perda da capacidade de "ler" as emoções das outras pessoas e sentir empatia. Esta alteração no cérebro fica a dever-se à sua neuroplasticidade, a característica que permite à mente reprogramar-se em resposta às experiências da vida.
Quantas vezes pessoas que testemunharam um colega a ser promovido notaram provavelmente algumas alterações no seu comportamento e nem sempre para melhor. "Parece que o poder tem um efeito profundo no sistema neurocognitivo subjacente ao comportamento", concluem neste estudo.
O estudo contou com 45 participantes, a quem foi pedido que relatassem as experiências em que se tinham sentido uma de três coisas: poderosos, impotentes ou neutros. Em seguida, foi-lhes mostrado um vídeo de uma mão a apertar uma bola de borracha, uma vez que ver os movimentos de outras pessoas normalmente ativa o cortex motor primário - a nossa perceção das ações dos outros leva a uma atividade cerebral muito semelhante à que ocorre quanto somos nós a executar a mesma ação. No caso dos participantes que se sentiam com poder, essa área do cérebro mostrou-se significativamente menos ativa. E note-se que nenhum dos envolvidos na experiência detinha, na realidade, uma posição de poder permanente: Eram universitários que apenas tinham sido "preparados" previamente para se sentirem poderosos, ao recordarem uma experiência em que tinham estado numa posição de liderança.
As conclusões deste estudo alinham-se com as do professor de psicologia Dacher Keltner, da Universidade da Califórnia em Berkeley, depois de 20 anos de experiências de campo e em laboratório: Sob a influência do poder, os indivíduos tornam-se mais impulsivos, menos conscientes dos riscos e menos capazes de ver as coisas sob o ponto de vista dos outros. Nos casos mais graves, os líderes podem mesmo sofrer da síndrome de Hubris, ou a "síndrome da presunção" que tem uma vasta lista de sintomas, desde a perda de contacto com a realidade, excesso de autoconfiança e desprezo pelos outros.
Ou seja, como resumiu Keltner, é o "paradoxo do poder": "uma vez alcançado o poder, as pessoas perdem algumas das capacidades que precisaram para lá chegar". Muito curioso as conclusões deste estudo! Agora consigo compreender muito melhor alguns episódios...da nossa mundana vida social.

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publicado às 16:41

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Há muito tempo que não escrevia nenhuma reflexão. Mas o dia de hoje ficará certamente marcado na história de milhões de pessoas.

Uma nova era começa caracteriza pelo individualismo. As escolhas racionais feitas em trono das famílias, da comunidade, das virtudes, dos erros, dos acertos, dos vícios, moldavam a nossa própria história. Hoje a interdependência social dá lugar a independência social. É este o perigo da ilusão de independência, que gera o egoísmo e a insensibilidade.

A sociedade de hoje é caracterizada pelo individualismo, que é gerador de uma perceção de vida mais acelerada, o tempo parece curto para tudo o que queremos e temos obrigação de fazer, e cada vez mais o ser humano está só nas esferas individuais, num mundo cada vez mais tecnológico e conectado.

O ser humano, regra geral, procura justiça, segurança, educação e saúde. O pensamento séptico não acredita na força coletiva, que por sua vez leva a tentação de querer encontrar coisas fáceis e respostas rápidas no mundo moderno, estamos cada vez mais sozinhos e mergulhados em nós próprios! A individualização instala-se e consequentemente leva-nos à solidão. Os indivíduos nunca tiverem tanto e, no entanto, nunca se sentiram tão sós. A escassez de relacionamento interpessoal, cada vez mais passa a noção que estamos sozinhos e incompletos. Este é o maior contra cesso da sociedade individualista que veio para ficar. Estes comportamentos e padrões acabam por ser nocivos e destrutivos para o nosso bem-estar, mental e físico.

Aos padrões da cultura vigente são a supremacia do individualismo, em detrimento do altruísmo e do personalismo. Todos os outros são colocados em segundo lugar e até descartados. O individualismo estalado e globalizado, na nossa sociedade traduz-se na absolutização do ter, do poder e do prazer. Os outros são derrotados, descartáveis, sobrantes, excluídos e marginais.

Este admirável mundo, que nunca imaginei experienciar será com certeza mais incerto, mais arriscado e mais pobre.  O individualismo egoísta globalizado vai gerar certamente “povos da opulência”, mas seguramente vai gerar muito mais “povos da indigência”. Esta realidade vai alargar as desigualdades entre ricos e pobres, o império do mercado e a iniquidade social. Esta sociedade egoísta é o caminho para o abismo. A história recente demostrou isto mesmo.

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publicado às 16:31

O Mundo na Contramão

por franciscofonseca, em 12.11.16

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Nos últimos meses, dois assuntos internacionais prenderam a minha atenção. A eleição do novo secretário das Nações Unidas e a eleição do novo presidente dos Estados Unidos da América. Muitos foram os comentários que fui lendo, dos mais variados quadrantes, quer nacionais, quer internacionais. Pensadores muito reconhecidos, comentadores ilustres, figuras com grande experiência em relações internacionais, enfim, quer António Guterres, quer Donald Trump não figuravam nas apostas principais.

Mas a realidade mostrou o contrário e ambos foram eleitos. Será que a realidade do Mundo em que vivemos se tornou impercetível para todo este colégio de sábios? Se assim for são boas notícias. O sinal é muito positivo pois os velhos ditames e matriz de análise associada serão ultrapassados. A probabilidade de acerto no futuro aumentará consideravelmente!

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publicado às 13:24

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O projeto europeu tinha como grande objetivo enterrar estes monstros em definitivo. Passados estes anos de integração europeia intermitente, com recuos e avanços, a crise económica está a fazer com que o projeto europeu se desintegre e os europeus olhem cada vez com mais ceticismo para a Europa.

O fenómeno ganha cada vez mais força na Europa, os partidos tradicionais estão a desaparecer, por não darem respostas claras às angústias das populações. A tendência dos partidos de extrema-direita com ganhos importantes de popularidade manifestou-se mais recentemente na Áustria, mas também em França, no Reino Unido, na Alemanha, Suécia, Holanda, Finlândia, Hungria, Áustria, Letónia e Grécia.

Perante esta falta gritante de respostas por parte das instituições europeias, crescem os partidos xenófobos, nacionalistas, antieuropeus. As principais divisões são de ordem política, em torno de questões como a União Europeia, os refugiados, a confiança no sistema político vigente.

Do outro lado do atlântico o panorama é delicioso para os politólogos, mas muito preocupante para o futuro dos norte-americanos e do mundo em geral. Mas os motivos que colocam Donald Trump com grande popularidade são muito idênticos, aqueles que na europa potenciam o crescimento da extrema direita. Nos EUA a classe média tem cada vez mais dificuldade em acender.

Quem diria que nos primeiros anos deste século, a América e a Europa chegariam a um impasse. Os responsáveis políticos mundiais e principalmente europeus têm de encontrar uma forma de disseminar o sentimento de entusiasmo e de esperança para as pessoas, caso contrário, os povos poderão mergulhar novamente na escuridão profunda.

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publicado às 19:59

EUA assustados com a Rússia

por franciscofonseca, em 23.02.16

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Os EUA estão traumatizados como no tempo do lançamento pela União Soviética, do primeiro satélite artificial da Terra, em 1957. Mas, se naquele momento o que surpreendeu o Mundo ocidental foi o nível tecnológico do país rival, dessa vez a surpresa consiste na máquina de guerra, que a Rússia conseguiu lançar na Síria, mesmo em tempos de queda dos preços de petróleo.

Europeus e os norte-americanos imaginavam as tropas russas com milhares de soldados, com uniformes gastos e milhões de toneladas de ferro velho, mas a realidade patenteada na Síria tem a ver com o uso de tecnologia militar de ponta, armamento sofisticado e moderno e um exército manifestamente bem uniformizado e equipado.

Para quem está mais atento as dinâmicas geopolíticas regionais de segurança, não é novidade a enorme ambição da Rússia. Putin já não está interessado em dominar as antigas repúblicas da União Soviética, como a Ucrânia, mas sim em adotar uma postura militar mais dominante a nível global.

Putin e o seu poder militar têm numa nova estratégia de confronto geopolítico. É completamente errado pensar que Putin tem limites territoriais. A intervenção da Rússia na Síria mostra precisamente o contrário.

A administração americana já reconheceu o erro colossal estratégico que foi abandonar as bases militares na Europa, em prol da estratégia do Pacífico e Ásia. Hoje temos uma Aliança Atlântica enfraquecida e Moscovo, cuja relação com o Ocidente se tem vindo a deteriorar, avisa que o envio de forças da NATO para perto das suas fronteiras irá ser visto como um ato de agressão.

Muito recentemente, o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, declarou numa conferência de segurança, que decorreu na cidade alemã de Munique, que as relações entre o Ocidente e a Rússia deslizavam para uma "nova Guerra Fria". A realidade é que temos uma Europa enfraquecida, cada vez mais desunida em matéria de união e sem poder militar capaz de colocar em respeito as pretensões Russas. Temo pelo futuro da desta velha Europa obcecada somente com as políticas de austeridade, em prol do sistema financeiro global.

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publicado às 15:15

Mais um roubo para Zé pagar

por franciscofonseca, em 21.12.15

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Que chatice, vamos ter de pagar o roubo feito no BANIF. Nada de anormal, ainda estamos a pagar o BPN, BPP e o BES, que diferença faz mais um, o Zé aguenta, tem de aguentar! Não lhe resta outro remédio. Muitos dirão,  isto é o reflexo da debilidade do sistema bancário português, outros que se trata de uma cambada de criminosos e outros ainda que foi culpa da gestão incompetente danosa.

Já escrevi algumas vezes neste blog que vivemos tempos do primado financeiro sobre a economia, a sociedade e os povos. Os governos, as instituições estão sequestradas pelos senhores do poder absoluto, os banqueiros que continuam a roubar o Zé sem quaisquer escrúpulos, não olhando aos meios, para alcançar os fins.

Nem vou falar das entidades reguladoras, Banco de Portugal, BCE, CMVM, entre outros, porque estes pertencem todos a família do poder absoluto. Daqui nunca vamos ficar a saber para onde foram os milhões, que aumentaram a canga do Zé.

O meu Portugal fica cada dia mais pobre e a canga do Zé cada vez mais pesada. Miserável miséria onde 20% dos Zés são pobres ou em risco de extrema pobreza. Bem, mas do mal o menos, o Banif já foi vendido, a fatura já foi passada e a conta do Zé creditada. Com mais debates e opiniões tudo fica resolvido.

Então o que fazer para acabar com este estado de coisas. Deixo algumas reflexões. Primeiro, os Zés têm de ficar mais atentos e desconfiados. Segundo, os vampiros e as sanguessugas que continuam a ser rotulados de grandes gestores, que promiscuamente influenciam e se misturam com os representantes das instituições têm de ser varridos borda fora, custe o que custar. Por último, acabar com esta ingenuidade reinante e por termo a este triste fado.

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publicado às 15:24

A ingenuidade europeia e o terrorismo

por franciscofonseca, em 06.12.15

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As políticas económicas de austeridade impostas na Europa, a partir de Berlin, com o consentimento de Paris, Londres e Bruxelas, ao longo dos últimos anos aumentaram exponencialmente as desigualdades sociais dentro destes mesmos países, assim como, em todos os outros países do espaço da União Europeia.

Esta realidade é perfeitamente identificada nos 64 bairros franceses altamente problemáticos, repartidos por 38 cidades, desenhando uma mancha que mistura exclusão e violência. A esmagadora maioria dos seus residentes é de origem estrangeira e uma proporção significativa das famílias são muçulmanas. A periferia de Paris forma uma constelação de aglomerados de alto risco, uma espécie de "apartheid territorial, social, étnico e religioso" que forma um garrote pronto a asfixiar a capital.

Bem sei que o desejo natural da maioria das pessoas é ter uma vida normal. As falhas na integração das populações estrangeiras e as desigualdades sociais, mesmo a marginalização racial e cultural, não são, nem só por si nem necessariamente, autoestradas para a violência e para o terrorismo.

Analisando a situação como uma certa prudência, em França e noutros países europeus, seria um erro ligar, imigração, etnicidade, pobreza, dificuldades de integração social, religião, discriminação, com focos de criminalidade ou de terrorismo.

Mas por outro lado, não podemos deixar de constatar, que é nestes espaços onde a maioria dos jovens encontrou terreno fértil para iniciar os processos e radicalização. Os últimos acontecimentos confirmaram que os terroristas dos atentados de Paris e os suspeitos de planearem mais ataques são originários ou são procurados em Paris e em Bruxelas nestes bairros.

O terrorismo que assola a Europa é uma extensão religiosa a partir do fundamentalismo islâmico. Osama bin Laden, por exemplo, não era um desprovido, mas herdeiro de uma família saudita rica. Também não era um guerrilheiro de esquerda, um altruísta que dedicou sua vida a defender as massas desprovidas, nem extremista de direita. Era um radical ideológico cuja bandeira única era a reprodução de conceitos fundamentalistas e a realização de atos de terrorismo. É impossível analisar, elencar as causas, combater as raízes deste fenômeno ignorando as características regionais, onde o Estado Islâmico, a Al Qaeda e outros grupos terroristas estão sediados.

O estado da arte demostra os perigos a que está exposta a humanidade numa ordem mundial marcada pela violação sistemática do direito internacional, o militarismo, o intervencionismo, a guerra como meio de política externa e o desrespeito à soberania nacional.

Na minha modesta opinião, a luta contra o terorismo não está nas mãos dos Estados e governos cujas políticas apenas têm gerado instabilidade e crises. Bem pelo contrário, exige a mobilização dos povos, das forças amantes da paz e da democracia, de todos os que lutam por uma sociedade livre da ingerência imperialista e por soluções justas para os conflitos internacionais. Esta luta tem de partir em primeiro lugar dos principais países mulçumanos, como a Arábia saudita, o Qatar, Kuwait, Emirados Arabes Unidos, entre outros.

Os casos das intervenções militares no Iraque, Afeganistão e Líbia sempre escudadas na lutra contra o terorismo, apenas produziram caos, estados falhados e deixaram terrenos férteis para os grupos extremistas. A intervenção que se prepara na Síria não fugirá a regra e para além do caos que produzirá será ao mesmo tempo um novo Vietnam, para as reclamadas botas que pizarem o terreno.

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publicado às 21:44

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O Estado Islâmico (EI) nasceu no Triângulo Sunita, no centro leste do Iraque, com vértices em Tikrit, Ramadi e Baghdad. Em 2004, o engenheiro jordano Abu Musabal-Zarqawi, militante da Al Qaeda central, cria uma célula do grupo em Tikrit, no Iraque. Denominam-se Al Qaeda da Mesopotâmia e seu crescimento deveu-se, principalmente, ao grave erro cometido pelos americanos ao dispersar o Exército Iraquiano, criando uma massa de especialistas desempregados. Intensificam os ataques contra as tropas americanas e realizam violentos atentados por todo o Iraque. Zarqawi disse nessa altura “A faúlha – abençoada por Alá – foi acesa aqui no Iraque e seu calor é cada vez mais intenso até queimar os exércitos cruzados em Dabiq (localidade na Síria onde será travada a batalha final do Apocalipse, de acordo com os mitos islâmicos). Foi neste período que estive no Iraque e vivenciei de perto esta realidade. No fim de 2005, Zarqawi e dezenas de jihadistas são mortos por um ataque aéreo americano.

Assume a liderança o egípcio Abu Ayyub al-Masri, especialista em explosivos e coordenador do terrorismo sob Zarqawi. Em fins de 2006, o grupo passa a chamar-se AQI (Al Qaeda Iraque ou ISIS - Estado Islâmico do Iraque e al-Sham). Assume a liderança o Emir Abu Omar al-Baghdadi e Al-Masri torna-se o Ministro da Guerra. De 2007 a fins de 2009, as atividades do ISIS reduzem-se drasticamente em razão de ataques de forças americanas, iraquianas, milícias xiitas. Em abril de 2010, perto de Tikrit, tropas especiais americanas e iraquianas matam Al-Baghdadi e Al-Masri juntamente com inúmeros comandantes operacionais. Em Maio, o Imã iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi, doutor em filosofia, é apontado como novo líder. Reorganizou o grupo substituindo as lideranças perdidas por militares e oficiais de inteligência do exército de Sadam Hussein; o famoso coronel Samir al-Khlifawi, também conhecido como HajiBakr, torna-se o comandante militar geral. No final de 2011, um grupo de veteranos do grupo é transferido para a fronteira Síria, com a missão de abrir uma nova frente de combate contra o regime de Presidente Assad, aproveitando a situação caótica criada com a guerra civil no país.

Em junho de 2014, Baghdadi promove a integração do ISIS com a Frente Al Nusra, criando o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL), hoje simplesmente Estado Islâmico (EI). Lideranças da Frente Nusra discordaram da fusão, permanecendo fiéis à Al Qaeda central. Porém, muitos seguidores aderiram ao EI, sobretudo os operacionais – chechenos e outros caucasianos, veteranos jihadistas iraquianos, afegãos e dos Balcãs. Desde então milhares de voluntários da Síria e da península arábica, de muçulmanos europeus e mais de 50 nacionalidades juntaram-se ao EI. Naquela fase estimava-se que o número de militantes do EI rondava os 30.000. Em 4 de julho de 2014, Baghdadi anuncia na mesquita de Al Nuri, em Mosul, Iraque, a implantação do Califado aos moldes daqueles dos séculos 8 e 9, e se autoproclama o Califa Ibrahim, chefe religioso dos muçulmanos de todo o mundo.

A estratégia do EI é a conquista de território e tem como objetivo controlar uma vasta região e com isso obter legitimidade religiosa e política, porquanto a Sharia determina que o Califado só pode subsistir com a permanente conquista e ocupação de territórios. A pretensão do Califado é a de assenhorar-se do Oriente Médio, incluído Israel e Arábia Saudita, da Ásia muçulmana e expandir-se para o norte da África, Egito e Argélia. Hoje, o EI tem sólidas ramificações no Yemen, na Nigéria, Tunísia, Sudão, Daguestão, Turquestão, no Mali e em outros países. Grupos terroristas sob seu comando atuam na Europa, no Cáucaso, Egito, na Arábia Saudita, Faixa de Gaza e Líbano, entre outros. Cerca de 10 milhões de pessoas vivem hoje em zonas controladas pelo EI e segundo algumas fontes o EI conta com 200 mil militantes.

As fontes de financiamento passam pela extração de 30.000 a 50.000 barris de petróleo/dia no Iraque e na Síria, faturando mais de um milhão de dólares diariamente. Outras fontes de renda são a venda de antiguidades, doações do mundo inteiro, taxas diversas, além da extorsão em larga escala, controlo de passagens na fronteira Síria/Iraque, contrabando, narcotráfico, sequestros e outras atividades criminosas.

Estima-se que o EI tenha arrecadado em 2014 cerca de 600 milhões de dólares provenientes de extorsão e cobrança de taxas da população (representando hoje mais de 50 % da receita total) e 500 milhões de dólares em dinheiro roubados de Bancos iraquianos.

Podemos pensar que a força do EI reside na deficiente oposição da comunidade internacional, na ausência de uma forte reação militar local, no suporte internacional angariado e na colaboração e apoio político das tribos sunitas em áreas ocupadas, nada disso desafia a realidade de que – no plano tático – o EI é uma máquina de guerra eficiente e letal, sendo os últimos ataques em Paris a prova disso mesmo.  

Os fatores que imprimem eficiência tática ao EI podem ser resumidos no comando e controlo da máquina descentralizados; novas táticas militares híbridas, misturando guerra convencional com táticas terroristas e guerrilha urbana; dispersão; preservação do momentum a qualquer custo; exploração aprofundada da topografia do terreno; planeamento simples e flexível; e altos níveis de iniciativa e moral elevada na condução dos ataques.

A estrutura de comando do EI é do tipo bottom-up command structure, ou seja, envolve inteiramente os operacionais nas decisões de comando, cria um ambiente favorável à elevação da moral e a um senso de responsabilidade mútua com o resultado das operações militares, que os faz lutar ferozmente para atingir os objetivos traçados. As ordens do EI são breves, estabelecendo a missão em termos simples, deixando o modus operandi a cargo das unidades de combate. O EI privilegia a mobilidade, a surpresa, a manobra e a infiltração por meio de equipas fortemente armadas.

O futuro do El depende em primeiro lugar como os principais países muçulmanos vão intervir, isto é, de uma forma concertada com os países do ocidente, ou de uma forma isolada e sem qualquer concertação com as principais forças do mundo ocidental. Certamente e infelizmente o terror continuará a ser espalhado na Europa nos tempos futuros.

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publicado às 15:47


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