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A liberdade de expressão e a expressão da liberdade

por franciscofonseca, em 25.02.13

Nos últimos dias, Portugal tem vivido um crescente sentimento de revolta com as aparições públicas de governantes. A “Grândola, Vila Morena", canção histórica da revolução portuguesa contra a ditadura em 1974, tem sido cantada por manifestantes em Portugal e até em Espanha. Alguns ministros foram silenciados, limitados na sua liberdade de expressão, ou seja, a liberdade de expressão acaba quando impedimos os outros de a exercer. Mas então Portugal não vive numa democracia com plena liberdade de expressão?

Bem, a liberdade de expressão nunca antes foi tão facilitada. Todos nós podemos escrever a nossa opinião em redes sociais, em blogues, criticar tudo e todos, expressando os nossos sentimentos de forma livre. Isto na minha opinião é o expoente máximo da expressão da liberdade. Como exemplo disso, temos um antigo governante, que expressa a sua livre opinião, no seu blogue, escrevendo que se for abordado "por algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira" terá de “pedir para ir tomar no cu". Não vou debruçar-me sobre as implicações e interpretações da expressão utilizada.

A história reserva-nos sempre supressas e, desta feita uma música escrita para promover a liberdade de expressão foi transformada numa arma contra a liberdade de expressão. O povo é quem mais ordena, mas na verdade, deixou que o seu destino fosse traçado por governantes democraticamente eleitos, com grande passividade. Os direitos e deveres de cidadania foram postos de parte, pois o dinheiro estava barato e vaquinha dava leitinho para toda a gente, embora em porções muito desiguais. Foi assim que consentimos sermos mal governados e sem grandes sobressaltos. Agora o dinheiro ficou mais caro e a vaquinha diminui muito a produção. Conclusão, quem já pouco tinha, ficou sem nada. Já fiz o velho ditado, em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Agora estamos a pagar a fatura da nossa passividade.

Mas, "feliz é o país onde a oposição se manifesta através de uma canção e não pela violência", palavras proferidas pela vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding. Portugal em matéria de liberdade de expressão e da expressão da liberdade é assim reconhecido, ao mais alto nível e distingue-se dos demais. Na minha opinião, se em 02 de Março Portugal cantar “Grândola, Vila Morena" é sinal que o país não está moribundo, que ainda está com vida, que quer ser ouvido dentro e além-fronteiras, que apesar de estar em causa a sobrevivência de muitas pessoas, não cedemos à violência. A reflexão terá de ser profunda e desapaixonada entre todos os quadradantes da sociedade, por forma a perceber como chegamos até aqui, como podemos sair sem voltar a cometer os erros do passado. Temos de arrepiar caminho, pois, pior que não ter onde cair morto, é não ter onde ficar em pé vivo.

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publicado às 19:53

A falácia da reforma do Estado

por franciscofonseca, em 19.02.13

Durante anos consecutivos ouvimos falar na reforma do Estado, agora vai fazer-se um roteiro, para servir de guia a mais uma tentativa. Sinceramente, não acredito que se venha a realizar qualquer reforma séria, que corrija os problemas fundamentais, antes vão ser implementadas medidas avulsas, de acordo com os interesses instalados, sem qualquer resultado prático. 

O Estado está acostumado com tarefas repetitivas, onde impera a obediência e onde a criatividade é reprimida. As coisas não funcionam devido à falta de planeamento e de previsibilidade. Na era em que vivemos, as regras e os regulamentos não funcionam mais, porque ficam rapidamente desfasados da realidade, tendo de haver apenas princípios norteadores, que servem de orientação ao modus operandi.

O funcionamento está muito dependente de recursos muito centralizados, armazenados e controlados, em vez de estarem disponíveis em rede, para quem verdadeiramente necessita deles. É fundamental trocar a segurança pelo risco, gerir riscos nos nossos dias fica muito dispendioso. O funcionamento do Estado dá muita importância aos objetos, quando deveria dar muito mais importância aos sistemas e processos, devendo passar a trabalhar com a prática mais do que com a teoria. Temos uma administração demasiado burocratizada, muito teórica que gasta muito tempo, dinheiro e energia, revelando-se ineficiente e improdutiva.

Ainda vivenciamos o espetro do chefe todo-poderoso no topo dos serviços do Estado. Esta definição é completamente errada, sendo necessário gestores autênticos, mais colaborativos e que alinhem as pessoas em trono de valores, independentemente das cores partidárias. O paradigma tem de mudar, ou seja, quanto mais poder se tem, menos ele deve ser utilizado.

O Estado deve escolher servir os cidadãos que necessitam de ser servidos e oferecer serviços que atendam as suas necessidades mais prementes. Necessita também de redefinir a produtividade na sua cadeia de valor, escolhendo parceiros que respeitem os funcionários e as comunidades. As cadeias de fornecimento terão de ser reinventadas e a logística reduzida. O princípio norteador deve passar por proporcionar serviços, que possam melhorar as nossas vidas e da comunidade em geral.

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publicado às 18:22

O poder, os lobbies e a governação

por franciscofonseca, em 16.02.13

O mundo sofre transformações a uma grande velocidade como nunca aconteceu na história e as mudanças são difíceis de percecionar e entender por parte dos Estados, das instituições e dos cidadãos. Hoje em plena globalização assistimos aos atores privados a tomarem o lugar dos Estados e os mercados a substituírem-se aos sistemas políticos.

Os círculos e os centros de poder sofrem alterações, a geoestratégia está em constante redefinição, no palco mundial devido à emergência de países como a China, Índia, Brasil e Rússia. Assistimos à concentração de grandes grupos económicos em multinacionais, onde o poder é concentrado em interesses privados, aumentando o seu poder, que através de fortes lobbies tomam conta da governação.

As políticas públicas e as leis são feitas de acordo e com a permissão dos lobbies esmagando os interesses, os valores das comunidades e dos seus cidadãos. Esta crise é o reflexo fidedigno desta realidade. Vejamos como a sociedade portuguesa está a ser espoliada, para servir os interesses dos mercados e das elites mais ricas do país.

As previsões dos governos em Portugal são constantemente falhadas e revelam-se sempre aquém das expectativas. O governo vive numa realidade fictícia, enquanto a grande esmagadora dos portugueses vivencia uma dura realidade, onde crescem as desigualdades de rendimentos e a concentração de riqueza.

Temos hoje as principais instituições mundiais infiltradas pelos interesses dos mercados financeiros, que vergam os governos nacionais, na adoção de políticas tendentes a servir as intenções dos grandes lobbies. A revolução de que a sociedade portuguesa está a ser alvo tem como objetivos principais a redução generalizada dos salários, o desaparecimento de empresas, a criação de uma grande massa de desempregados e finalmente o depauperamento geral do país.

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publicado às 22:35

A evolução tecnológica e o desemprego massivo

por franciscofonseca, em 11.02.13

As revoluções tecnológicas no passado sempre criaram postos de trabalho, obrigando os trabalhadores a adquirir novas competências. Atualmente, a evolução tecnológica acontece a uma velocidade tão elevada, que impossibilita os trabalhadores de adquirir novas competências no curto prazo, acabando por excluir milhares do mercado de trabalho em definitivo. Toda a evolução tecnológica está focada nos lucros imediatos e na eficiência económica, sem quaisquer preocupações humanísticas.

As disrupções no mercado de trabalho têm sido muitas e raramente compreendidas por aqueles que têm a responsabilidade da sua regulação. Assistimos há algum tempo ao movimento laboral do ocidente para oriente, ou seja, ao “outsourcing” e as políticas europeias para combater esta tendência têm passado pela substituição dos trabalhadores com menos competências e na redução dos salários, aumentando drasticamente o desemprego na maioria dos países. Esta gente ainda não entendeu que estamos na presença de um novo fenómeno.

A globalização económica conduziu a novas formas emergentes de relacionamento com o capital, com o trabalho, com os mercados de consumo, com os próprios governos, que se traduzem num crescimento gigantesco das desigualdades. O capital move-se sem controlo e a grande velocidade por todo o mundo, confluindo cada vez mais para grandes grupos económicos, que investem milhões de euros em tecnologia, por forma a substituir o trabalho manual por robôs mais eficientes. Estamos na era do “robosourcing” que já está a privar uma vasta proporção da população mundial de emprego remunerado.

Por outro lado, mundo está transformado numa mente global, digital e eletrónica, que liga pensamentos, opiniões, sentimentos de milhões de pessoas, ao mesmo tempo que coloca vulneráveis informações pessoais, informações secretas de organizações, que são aproveitadas por players supranacionais com o intuito de retirar proveito de empresas, governos e organizações, causando efeitos muito nefastos. O desemprego veio para ficar, aumentar, pois não acredito numa mudança de paradigma no desenvolvimento tecnológico e que o capital mude a sua génese, isto é, eficiência económica e lucro no curto prazo.

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publicado às 20:16


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