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Blog de crítica e opiniões sobre as políticas que afetam negativamente a humanidade. O Homem na atualidade necessita urgentemente de arrepiar caminho, em busca de um novo Mundo!
Nos últimos dias, Portugal tem vivido um crescente sentimento de revolta com as aparições públicas de governantes. A “Grândola, Vila Morena", canção histórica da revolução portuguesa contra a ditadura em 1974, tem sido cantada por manifestantes em Portugal e até em Espanha. Alguns ministros foram silenciados, limitados na sua liberdade de expressão, ou seja, a liberdade de expressão acaba quando impedimos os outros de a exercer. Mas então Portugal não vive numa democracia com plena liberdade de expressão?
Bem, a liberdade de expressão nunca antes foi tão facilitada. Todos nós podemos escrever a nossa opinião em redes sociais, em blogues, criticar tudo e todos, expressando os nossos sentimentos de forma livre. Isto na minha opinião é o expoente máximo da expressão da liberdade. Como exemplo disso, temos um antigo governante, que expressa a sua livre opinião, no seu blogue, escrevendo que se for abordado "por algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira" terá de “pedir para ir tomar no cu". Não vou debruçar-me sobre as implicações e interpretações da expressão utilizada.
A história reserva-nos sempre supressas e, desta feita uma música escrita para promover a liberdade de expressão foi transformada numa arma contra a liberdade de expressão. O povo é quem mais ordena, mas na verdade, deixou que o seu destino fosse traçado por governantes democraticamente eleitos, com grande passividade. Os direitos e deveres de cidadania foram postos de parte, pois o dinheiro estava barato e vaquinha dava leitinho para toda a gente, embora em porções muito desiguais. Foi assim que consentimos sermos mal governados e sem grandes sobressaltos. Agora o dinheiro ficou mais caro e a vaquinha diminui muito a produção. Conclusão, quem já pouco tinha, ficou sem nada. Já fiz o velho ditado, em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Agora estamos a pagar a fatura da nossa passividade.
Mas, "feliz é o país onde a oposição se manifesta através de uma canção e não pela violência", palavras proferidas pela vice-presidente da Comissão Europeia, Viviane Reding. Portugal em matéria de liberdade de expressão e da expressão da liberdade é assim reconhecido, ao mais alto nível e distingue-se dos demais. Na minha opinião, se em 02 de Março Portugal cantar “Grândola, Vila Morena" é sinal que o país não está moribundo, que ainda está com vida, que quer ser ouvido dentro e além-fronteiras, que apesar de estar em causa a sobrevivência de muitas pessoas, não cedemos à violência. A reflexão terá de ser profunda e desapaixonada entre todos os quadradantes da sociedade, por forma a perceber como chegamos até aqui, como podemos sair sem voltar a cometer os erros do passado. Temos de arrepiar caminho, pois, pior que não ter onde cair morto, é não ter onde ficar em pé vivo.
Durante anos consecutivos ouvimos falar na reforma do Estado, agora vai fazer-se um roteiro, para servir de guia a mais uma tentativa. Sinceramente, não acredito que se venha a realizar qualquer reforma séria, que corrija os problemas fundamentais, antes vão ser implementadas medidas avulsas, de acordo com os interesses instalados, sem qualquer resultado prático.
O Estado está acostumado com tarefas repetitivas, onde impera a obediência e onde a criatividade é reprimida. As coisas não funcionam devido à falta de planeamento e de previsibilidade. Na era em que vivemos, as regras e os regulamentos não funcionam mais, porque ficam rapidamente desfasados da realidade, tendo de haver apenas princípios norteadores, que servem de orientação ao modus operandi.
O funcionamento está muito dependente de recursos muito centralizados, armazenados e controlados, em vez de estarem disponíveis em rede, para quem verdadeiramente necessita deles. É fundamental trocar a segurança pelo risco, gerir riscos nos nossos dias fica muito dispendioso. O funcionamento do Estado dá muita importância aos objetos, quando deveria dar muito mais importância aos sistemas e processos, devendo passar a trabalhar com a prática mais do que com a teoria. Temos uma administração demasiado burocratizada, muito teórica que gasta muito tempo, dinheiro e energia, revelando-se ineficiente e improdutiva.
Ainda vivenciamos o espetro do chefe todo-poderoso no topo dos serviços do Estado. Esta definição é completamente errada, sendo necessário gestores autênticos, mais colaborativos e que alinhem as pessoas em trono de valores, independentemente das cores partidárias. O paradigma tem de mudar, ou seja, quanto mais poder se tem, menos ele deve ser utilizado.
O Estado deve escolher servir os cidadãos que necessitam de ser servidos e oferecer serviços que atendam as suas necessidades mais prementes. Necessita também de redefinir a produtividade na sua cadeia de valor, escolhendo parceiros que respeitem os funcionários e as comunidades. As cadeias de fornecimento terão de ser reinventadas e a logística reduzida. O princípio norteador deve passar por proporcionar serviços, que possam melhorar as nossas vidas e da comunidade em geral.
O mundo sofre transformações a uma grande velocidade como nunca aconteceu na história e as mudanças são difíceis de percecionar e entender por parte dos Estados, das instituições e dos cidadãos. Hoje em plena globalização assistimos aos atores privados a tomarem o lugar dos Estados e os mercados a substituírem-se aos sistemas políticos.
Os círculos e os centros de poder sofrem alterações, a geoestratégia está em constante redefinição, no palco mundial devido à emergência de países como a China, Índia, Brasil e Rússia. Assistimos à concentração de grandes grupos económicos em multinacionais, onde o poder é concentrado em interesses privados, aumentando o seu poder, que através de fortes lobbies tomam conta da governação.
As políticas públicas e as leis são feitas de acordo e com a permissão dos lobbies esmagando os interesses, os valores das comunidades e dos seus cidadãos. Esta crise é o reflexo fidedigno desta realidade. Vejamos como a sociedade portuguesa está a ser espoliada, para servir os interesses dos mercados e das elites mais ricas do país.
As previsões dos governos em Portugal são constantemente falhadas e revelam-se sempre aquém das expectativas. O governo vive numa realidade fictícia, enquanto a grande esmagadora dos portugueses vivencia uma dura realidade, onde crescem as desigualdades de rendimentos e a concentração de riqueza.
Temos hoje as principais instituições mundiais infiltradas pelos interesses dos mercados financeiros, que vergam os governos nacionais, na adoção de políticas tendentes a servir as intenções dos grandes lobbies. A revolução de que a sociedade portuguesa está a ser alvo tem como objetivos principais a redução generalizada dos salários, o desaparecimento de empresas, a criação de uma grande massa de desempregados e finalmente o depauperamento geral do país.
As revoluções tecnológicas no passado sempre criaram postos de trabalho, obrigando os trabalhadores a adquirir novas competências. Atualmente, a evolução tecnológica acontece a uma velocidade tão elevada, que impossibilita os trabalhadores de adquirir novas competências no curto prazo, acabando por excluir milhares do mercado de trabalho em definitivo. Toda a evolução tecnológica está focada nos lucros imediatos e na eficiência económica, sem quaisquer preocupações humanísticas.
As disrupções no mercado de trabalho têm sido muitas e raramente compreendidas por aqueles que têm a responsabilidade da sua regulação. Assistimos há algum tempo ao movimento laboral do ocidente para oriente, ou seja, ao “outsourcing” e as políticas europeias para combater esta tendência têm passado pela substituição dos trabalhadores com menos competências e na redução dos salários, aumentando drasticamente o desemprego na maioria dos países. Esta gente ainda não entendeu que estamos na presença de um novo fenómeno.
A globalização económica conduziu a novas formas emergentes de relacionamento com o capital, com o trabalho, com os mercados de consumo, com os próprios governos, que se traduzem num crescimento gigantesco das desigualdades. O capital move-se sem controlo e a grande velocidade por todo o mundo, confluindo cada vez mais para grandes grupos económicos, que investem milhões de euros em tecnologia, por forma a substituir o trabalho manual por robôs mais eficientes. Estamos na era do “robosourcing” que já está a privar uma vasta proporção da população mundial de emprego remunerado.
Por outro lado, mundo está transformado numa mente global, digital e eletrónica, que liga pensamentos, opiniões, sentimentos de milhões de pessoas, ao mesmo tempo que coloca vulneráveis informações pessoais, informações secretas de organizações, que são aproveitadas por players supranacionais com o intuito de retirar proveito de empresas, governos e organizações, causando efeitos muito nefastos. O desemprego veio para ficar, aumentar, pois não acredito numa mudança de paradigma no desenvolvimento tecnológico e que o capital mude a sua génese, isto é, eficiência económica e lucro no curto prazo.
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