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Kadhafi e filho Muatassim mortos em Sirte

por franciscofonseca, em 20.10.11

No decorrer da chamada primavera árabe, que se iniciou com os protestos que derrubaram os presidentes da Tunísia e do Egipto, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país, em Fevereiro para contestar o coronel Muammar Kadhafi, no comando da Líbia desde a revolução de 1969. Muito rapidamente, os protestos evoluíram para uma guerra civil, onde os rebeldes foram apoiados pelas forças da Aliança Atlântica, com o objectivo de controlar as cidades estratégicas de leste a oeste.

A Líbia pode hoje virar uma página na sua história e empreender um novo futuro democrático. A morte de Kadhafi marca o fim de uma era de despotismo e repressão, que se estendeu por 40 anos, sobre o povo líbio.

Espero que as armas sejam depostas, que os combates encerrem e que o povo líbio lute pacificamente pelas suas aspirações e anseios, sem ressentimentos, com um espírito de diálogo e de reconstrução.

Mas a morte de Kadhafi, por outro lado, pode ser uma má notícia, porque a Líbia vai reescrever a sua história sem um processo, sem um julgamento e sem a verdade. Seria muito importante, para o povo líbio conhecerem a verdade e fazer justiça, por todos os opositores que desapareceram, que foram torturados e mortos.

Quanto ao futuro, vamos ver como se comportam as tribos, principal elemento social e político da Líbia. Algumas famílias tribais enriqueceram de forma inacreditável, principalmente devido à grande corrupção. A cultura tribal não é antagónica a ideia de um Estado moderno, espero que as tribos possam entrar em acordo, para a formação de um Estado, que devolva o conforto e a segurança ao povo líbio.

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publicado às 16:47

A London School of Economics (LSE) está a ser abalada por um enorme escândalo, que já deu origem à demissão do seu director, Sir Howard Davies, por ter aceitado dinheiro machado de sangue vindo da Líbia. Mas quase todas as universidades de prestígio recebem financiamentos de fontes duvidosas.

O antigo director da LSE, Anthony Giddens, considerado um dos maiores sociólogos do século XX, esteve envolvido na tese de doutoramento do filho de Khadafi, que foi alvo de suspeitas de plágio, a semelhança do que aconteceu ao ministro de Merkel, que não resistiu à mesma prevaricação.

Isto só veio a lume porque Khadafi continua a resistir e seu filho Saif al-Islams defendeu a sua tese de doutoramento subordinada ao tema “O papel da sociedade civil na democratização das instituições globais da governação: do soft power ao processo da decisão colectiva”, parecia defender uma Líbia como se fosse a Noruega do Norte de África: próspera, igualitária e progressista.

Se o jovem doutorado pela LSE não tivesse aparecido na televisão líbia a jurar lutar pela Líbia até à última bala, e apesar dos alertas para a existência de partes plagiadas na sua teses de doutoramento, o escândalo não teria rebentado, pelo facto de a LSE ter recebido um donativo de 2,4 milhões de dólares, da fundação Khadafi, logo após a conclusão da referida tese, mas as universidades também estão em crise, na boa verdade.

Existem universidades britânicas, Oxford, Cambridge e a UCL, que recebem fundos das realezas sauditas e de outras fontes do golfo. A família de Bin Laden doou somas avultadas, ao longo da década de 90, tanto à universidade de Harvard como à de Tuffs dos EUA. Assim, se mancha um dos pré-requisitos para qualquer processo académico: a transparência.

Os interesses económicos, mais uma vez, corroem um príncipio fundamental, a integridade académica. Penso que com a crise financeira, as instituições baixam a fasquia da ética relativamente aos donativos. Apesar do escândalo estou em querer, que o business as usual se vai manter no mundo universitário.

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publicado às 22:13

A última batalha em Trípoli, mas não na Líbia

por franciscofonseca, em 25.08.11

A Líbia esteve durante muito tempo dividida em três partes, que levaram vidas independentes durante a maior parte dos últimos séculos: a Cirenaica no litoral leste, o Fezzan desértico no sudoeste e a Tripolitânia no litoral oeste. A Líbia esteve sob o comando anglofrancês após o fim da 2.ª guerra, até 1951. A história do território líbio é muito conturbada, mas a do seu povo será ainda mais incerta, pois dos fenícios aos italianos, passando pelos judeus, todos deixaram a sua marca, até Khadafi tomar o poder em 1969.

Passados seis meses de guerra civil com os rebeldes, apoiados pela OTAN, o regime de Muammar Khadafi está a desmoronar-se. A festa na praça verde, centro simbólico do poder levou milhares de líbios a festejar nas ruas.

Não me restam dúvidas sobre os abusos da força na intervenção da OTAN. Muitos apoiantes e opositores ao regime já declararam que muitas das operações da OTAN atingiram civis, infra-estruturas, nomeadamente energia eléctrica, telecomunicações e ironicamente tropas insurgentes, que lutam contra as tropas fiéis a Khadafi.

A Líbia era uma sociedade onde a maioria da população gozava de bons níveis de bem-estar, tinha boas políticas públicas de educação, saúde, habitação gratuitas e com o maior rendimento per capita de África.

Levados pela onda dos acontecimentos da Tunísia e Egipto, os líbios começaram a sair às ruas. Milhares de pessoas morreram e multidões fugiram do país. A comunidade internacional mobilizou-se e com a aprovação da ONU, deu luz verde, para os bombardeamentos efectuados pela coligação entre França, Reino Unido e Estados Unidos.

Na minha opinião a situação na Líbia é muito incerta e fluida, pois as várias tribos que compõem a população líbia, muito dificilmente se entenderão no poder. Os 53 membros da União Africana (UA) reúnem-se, nesta quinta-feira, de emergência em Addis Abeba, para analisarem a situação política na Líbia.

Mas o que conta são os números, apesar do petróleo líbio representar apenas 2% da produção mundial, o preço do barril de brent, em Londres desceu hoje até aos 105 dólares e o de crude, mercado norte-americano, aos 81 dólares. Termino este post perguntando se o povo Sírio tem direito à liberdade? Como não tem petróleo poderá somente ter direito à estabilidade.

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publicado às 00:36

O percurso de Kadhafi

por franciscofonseca, em 28.03.11

Decorria o ano de 1969, quando Kadhafi, jovem, carismático militar, formado nas academias militares do Reino Unido e da Grécia, comandou um súbito golpe, para derrubar a monarquia pro-ocidental liderada pelo rei Idris. Logo se promoveu de capitão a coronel, após o golpe. Passou a ser considerado herói revolucionário, depois terrorista internacional, mais recentemente, aliado estratégico do ocidente e agora perseguido pelos seus aliados.

Nos anos 70 escreve o livro “Green Book”, nele desenvolve uma nova filosofia política, que pretendia ser uma teoria universal, onde defendia uma revolução política, económica e social em todos os povos oprimidos. Muito recentemente, autoproclamou-se como um líder internacional, o rei dos reis de África.

O atentado bombista ao voo 103, que se despenhou em Lockerbie, onde morreram 270 pessoas, revelou-se um acto de terrorismo internacional. Kadhafi recusou-se inicialmente entregar os dois suspeitos líbios à jurisdição escocesa. Durante o longo período de negociações, a Líbia sofreu várias sanções, impostas pela ONU.

Em 1999, as sanções foram levantadas e Kadhafi volta ao palco internacional. Vários líderes mundiais visitaram o líder líbio, na sua famosa e luxuosa tenda, que o acompanhou nas viagens para a Europa e EUA. Mas a sua excentricidade foi vista em 2010, na Assembleia Geral da Nações Unidas, quando tinha apenas 10 minutos para o discurso de abertura, mas demorou 1H15.

Quando os ventos de revolta e mudança começaram a soprar no mundo árabe, primeiro na Tunísia e depois no Egipto, a Líbia não estava nas cogitações dos apostadores, como o próximo país a ser alvo da vaga de turbulência. O grande equívoco de Kadhafi teve a ver com a distribuição de riqueza, a sua família arrecadou a maior parte das receitas do petróleo, as que distribuiu foi com espírito de comprar lealdade, sem promover maior igualdade entre o povo líbio.

É inevitável que o coronel vai lutar até ao fim, nada no seu passado sugere que fosse diferente. Já diz o velho ditado, na vida ou somos pombos ou estátua, temos de aproveitar o tempo enquanto somos pombos. Agora o coronel virou estátua e, os que o acolheram nas visitas extravagantes a Nova Iorque, as principais capitais europeias e ao mundo árabe, estão agora a tentar pousar na estátua do coronel.

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publicado às 16:31

Guerra, crise e desordem

por franciscofonseca, em 21.03.11

 

Assistimos ao derrube do regime de Muhamar Kadhafi que, vigorou na Líbia durante 41 anos, através de uma coligação internacional, com a assinatura das Nações Unidas. Esta coligação é liderada pela França, curioso não ser pelos Estados Unidos, mas é um sinal dos tempos. O que estamos a presenciar é o facto do sistema mundial estar em expansão permanente e são as principais potências, através das lideranças mundiais que, lutam pelo poder global, que criam guerras e paz, ordem e desordem, expansão e crise económica.

A França é uma potência mundial, que tem andado arredada da cena internacional. Com esta atitude quis voltar à ribalta. Mas, a França, a bem pouco tempo foi sacudida, por graves acontecimentos sociais que, futuramente, serão convulsões internas.

Dentro do sistema mundial moderno nunca houve paz duradoura, nem qualquer hegemonia prolongada. Os Estado Unidos, na minha opinião, estão a deixar de ser aquele Estado hegemónico, criador de ordem, para passarem a ser uma força que, espalham o caos e a desordem mundial. Desta forma, a crise, a desordem e a guerra são os instrumentos necessários, para alimentar a expansão deste sistema.

Assim, quando falamos dos culpados da crise, da guerra, porque estamos a passar, todos nós encontramos facilmente os responsáveis. Mas neste sistema mundial, não há culpados, a culpa morre sempre solteira. Os verdadeiros governantes do mundo, conforme refere José Adelino Maltez, são pessoas desconhecidas, indivíduos sem rosto, os homens do armamento, dos mercados financeiros, dos fundos de pensões, do petróleo, apenas conhecidos dos políticos mais importantes que, realmente, nada mandam, mas obedecem. A soberania dos países desapareceu, eu diria, em definitivo.

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publicado às 19:07

Revolução, petróleo, sangue e carnaval

por franciscofonseca, em 08.03.11

 

As revoluções no mundo árabe trazem preocupação, mas não devemos entrar em pânico. Qualquer revolução é confusa e sem qualquer tipo de lógica. Vejamos o caso português que, em dois anos passou de uma ditadura neofascista para uma democracia pseudoliberal. Todos os países do Médio Oriente apresentam cores diferentes, tem a sua própria história e identidade. A maior fonte de tensões, na minha opinião, prende-se com o fracasso dos governos destes países, no fornecimento de educação, emprego, habitação e condições de dignidade aos seus jovens cidadãos.

O aumento do preço dos combustíveis deve-se em primeira linha, à instabilidade vivenciada na Líbia, país rico em recurso minerais, mas gerido em benefício de Kadhafi, da sua família e dos seus apoiantes. Se esta instabilidade contagiar a Arábia Saudita, onde se encontram os maiores campos de extracção petrolífera do mundo, então, poderemos assistir a uma escalada do preço do petróleo nunca antes vista que, poderá aproximar-se dos 200 dólares por barril. Se isto vier a acontecer, os preços dos bens aumentará de forma significativa, as pessoas irão sentir dificuldades no pagamento das suas contas, nomeadamente das hipotecas, empréstimos e a economia sofrerá um colapso.

Esta revolução é regional, um movimento no qual cada geração jovem de cada país aprendeu tácticas, ajudas tecnológicas e slogans entre si. Desde a Tunísia, ao Egipto e agora na Líbia que, a resistência dos autocratas tem aumentado. Khadafi tem mantido o poder há 41 anos, recorrendo à brutalidade e a perseguição. Mercenários, snipers, helicópteros atiram indiscriminadamente contra cidadãos líbios que, protestam contra o regime. A pressão internacional tem sido muito ténue, pois estão em causa muitos acordos sujos, em nome do petróleo e da geopolítica, estando agora a atormentar os que os assinaram.

Mas em época de muitos carnavais, por toda a parte, não podemos pensar que estes países, ou quaisquer outros, podem ser governados por uma multidão da Praça Tahir, por uma conta do Facebook ou do Twitter. E quer-me parecer que o movimento “geração à rasca” que, já incomoda muita gente é resultado do fracasso, dos sucessivos governos em Portugal, no fornecimento de melhores condições, para os seus jovens.

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publicado às 13:34


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